Poesias

CANTO DAS RECONCILIAÇÕES

Na manhã do décimo-primeiro dia
da brotação de tuas penas
largando as peles de tantas vidas não consumadas
no destino que passa veloz sem parar nas estações
perguntarás de que servem tantas horas, os dias,
tantos anos, senão quebrar os cântaros lacrados
do sonho, e dos estilhaços organizar o tempo,
as vidências do sangue contra a dor, libertar
um deus qualquer cansado de sua infinitude
que de repente abrisse os olhos, o tempo todo
em armas e rosas na palavra a despregar-se
da cruz, crescendo entre os homens para acordá-los.

Reconciliarás agora o antes com o depois
se aprenderes a desprezar o tempo, e seus rancores.
É dessas águas que fermenta o pão vivo da palavra
que nada diz, e tudo cria em seu íntimo florescer,
mesmo se é dor ou espera, ou ainda o perder-se no escuro
sem nem haver partido: é dessa fonte que nos banhamos no limiar de tudo.

Nada no mundo está determinado. De tudo sofrer,
é que te alegrarás; de tudo esperar, é que acharás;
de tudo suportar, é que libertarás das manhãs
que se levantam de ti, o fervor mais alto, o que há
de resgatar a perda - e com ela, nova paixão. E se Deus
permanece escondido, é porque arrebatou dos homens a palavra, os revides.


12/07/2011

 

 

Site da Rede Artistas Gaúchos desenvolvido por wwsites